“Se a morte não tiver um sentido, a vida então seria um absurdo.” - Abraham J. Heschel
Em uma das minhas passagens pelo Oriente Médio, tive a oportunidade de visitar Jerusálem, a capital de Israel. Junto de um grupo de americanos - e mochileiros também - seguimos um guia turístico que vive na cidade a aproximadamente vinte e quatro anos. Abner - nosso guia - conhecia bastante da geografia, história e religião de Jerusalém, e durante toda nossa estadia na capital israelita cuidou para que soubéssemos da verdade com facilidade. Acredito que o ponto alto dos passeios - feitos a pé - foi a visita ao Monte das Oliveiras, mais especificamente o cemitério judaico que abriga mais de 150 mil sepulturas. Pra vocês terem noção da grandeza desse cemitério, ele tem um pouco mais do que o dobro da capacidade máxima do Maracanã!
O fato dele ser tão grande me chamou bastante atenção e acabei perguntado sobre como os judeus enxergam a morte; Abner foi breve e me disse que os judeus não vêem a morte como algo ruim, e que se seguirem os mandamentos da Torá, não devem ter medo da morte, afinal é algo natural do ser humano. Lembrem-se que sou curiosa, e não me satisfiz apenas com isso, e logo que cheguei de viagem fui procurar na internet um pouco sobre esse assunto.
Na tradição Ortodoxa, os seguidores do Judaísmo encaram a morte com respeito, porém ninguém deve temê-la. De acordo com os pensamentos judaicos, a criação do homem se entrelaça com a vida eterna da alma. No homem foi plantada a semente da perenidade; já para a morte, corpo e alma, que formavam uma peça única, se separam. O corpo é enterrado e volta à matéria, perdendo assim toda e qualquer conexão com a vida, enquanto a alma é eterna, e se transfere do mundo terreno para o próximo - um mundo completamente espiritual.
Em relação aos rituais mortuários, existem dois princípios básicos: o “kvod hamet”, que refere-se ao respeito com o falecido, e “kvod hachaim”, que significa a consideração dos sentimentos aos vivos; como a lei mosaica ordena, o funeral ocorre em até 24 horas após a morte, afinal deixar um corpo sem enterrar por um longo período significa desrespeito. Vale ressaltar que os mortos não podem ser cremados, devem ser banhados em água morna e enterrados com vestimentas brancas (tachrichim).
O processo de luto dos familiares se reflete no princípio do “kvod hachaim”, em que os sentimentos dos vivos são levados em conta e nenhum parente fica sozinho, já que o bem-estar mental e espiritual são importantes para os judeus. Os períodos de luto são divididos em 7 dias, 23 dias e um 1 ano, onde se encerra o ciclo da morte. Estes períodos são praticamente compostos por orações, e mesmo que este ciclo tenha fim, os judeus acreditam que a alma permanece viva iluminando os vivos, diferente do corpo que retorna à terra. Eles também acreditam no “tchiat hametim”, que representa a ressurreição dos mortos com a chegada do Messias - que trará a paz ao mundo.
Shalom Adonai!
REFERÊNCIAS:
O Significado da Morte e o Processo de Luto na Visão do Judaísmo. PERDAS E LUTO. 2016. Disponível em: <https://perdaseluto.com/2016/08/24/o-significado-da-morte-e-o-processo-de-luto-na-visao-do-judaismo/> Acesso em: 01 Mar. 2018.
IMAGEM 1: <https://www.renovaturismo.com/single-post/2016/12/05/Monte-das-Oliveiras-CEMIT%C3%89RIO-JUDAICO-DO-MONTE-DAS-OLIVEIRAS>
IMAGEM 2: <https://ritosdepassagemjudaicos.weebly.com/mavet-morte.html>
IMAGEM 3: <https://ritosdepassagemjudaicos.weebly.com/mavet-morte.html>
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